Epidemiologistas e infectologistas
avaliam que faltam dados, mas expectativa de parte da comunidade científica é
que casos devem começar a apresentar queda em fevereiro se o padrão visto na
África do Sul e Reino Unido se repetir no Brasil.
África do Sul e Reino Unido estão
entre os países que enfrentaram a explosão de casos de ômicron e já registram
uma queda consistente no número de infecções por Covid-19. Os dois países
anunciaram ter superado o pico de casos oficialmente registrados e, nesta
quarta-feira (19), o Reino Unido divulgou
que vai suspender restrições.
(Veja abaixo , nesta reportagem, os gráficos da África do Sul, Reino Unido, Austrália, Canadá e França)
Na visão de autoridades e especialistas, a curva descente pode indicar
que o auge das contaminações pode ter sido superada nestas e em outras nações
três semanas depois do início do tsunami de ômicron.
O mesmo padrão vai se repetir no Brasil? Teremos uma queda acentuada em
fevereiro?
Para o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas,
a curva de transmissão da doença deve começar a cair nas próximas semanas no
Brasil. "A onda da ômicron, até pelo fato de que ela sobe muito rápido,
ela tem uma tendência a descer muito rápido – então os matemáticos sugerem
isso", explica.
"E se a gente não olhar para os modelos, mas olhar para a prática,
também foi a mesma coisa. O caso da África do Sul talvez seja o mais marcante.
Então com certeza, em março, a ômicron já vai estar muito mais baixa no Brasil.
A dúvida é se é ainda no final de janeiro ou se vai ser em fevereiro que vai
começar a baixar. Mas a tendência é que seja uma onda bem mais curta”, analisa
Hallal em entrevista ao g1.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, prevê que nesta semana ou na próxima já será possível
começar a notar uma estabilização e até uma queda dos casos,
sobretudo no Rio de Janeiro.
"A tendência é que essa onda da ômicron, por ser uma onda tão
explosiva e com um número tão grande de casos, é que ela dure em torno de 5 ou
6 semanas. Então, aqui no Rio de Janeiro a gente espera que realmente já esteja
muito próximo desse pico", disse.
Para o epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor do Departamento
de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, as características dos
países variam muito, mas é provável que tenhamos uma queda de casos em
fevereiro.
"Comparar curvas é perigoso, porque as características variam.
Supomos que depois de atingir o pico, ocorra uma queda rápida de casos. Ainda
não sabemos. O que já sabemos é que a vacinação foi um fator importante para
evitar colapsos do sistema de saúde nos países do Hemisfério Norte", disse
Waldman.
Em entrevista ao "O Globo", o infectologista Julio Croda,
professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), disse que o padrão tem sido uma subida por
cerca de cinco semanas no total de transmissões.
"Se considerarmos a semana entre Natal e Ano Novo como início da
curva epidemiológica, teremos o pico no começo de fevereiro para depois começar
a queda. Isso, claro, se a nossa curva epidêmica se comportar de forma
semelhante", disse Croda.
O médico e epidemiologista Airton Stein, da Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica que a onda ômicron se
caracteriza como um tsunami e isso leva a um aumento na resposta imunológica da
população por causa das contaminações.
Apesar disso, ele ressalta que faltam dados sobre a pandemia no Brasil e
não é possível replicar os dados desses países (África do Sul e Reino Unido)
para a realidade brasileira.
"Como resultado desse contato com o vírus, alguns especialistas
pensam que podemos ter uma pequena pausa da montanha russa Covid depois da
ômicron. O que pode ocorrer depois dessa pausa ninguém sabe", diz Airton
Stein.
"A resposta mais honesta é que não sabemos em quanto tempo vai
passar essa onda do ômicron no Brasil", completa Stein.
A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel
Maciel, que tem pós-doutorado em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins,
lembra que algumas incertezas no Brasil atrapalham as projeções.
"Estamos no verão, as pessoas tendem a se aglomerar mais, não
sabemos o que vai acontecer no Carnaval e ainda temos os problemas com as
subnotificações [o registro de casos de Covid segue sendo afetado pelo apagão
de dados do Ministério da Saúde, que ocorreu em dezembro]. É impossível prever
o que acontecerá no Brasil", aponta.
Ethel reforça que a ômicron não é mais leve e, assim como as outras
variantes, também mata. "Algumas pessoas vão agravar e vão morrer, mesmo
com a ômicron. Estamos vendo isso no mundo todo. É claro que os vacinados estão
mais protegidos, mas ela também mata. É em menor quantidade, se comparar com o
tanto de gente que se infecta? Sim. Mas são mortes".
Entre 25 a 45 dias
Se o Brasil seguir o mesmo padrão de outros países, o pico da ômicron
seria entre 25 e 45 dias no país.
"Se pensar em 45 dias, atingiríamos o pico até fevereiro e a curva
desceria bem rápido também. Mas temos o carnaval. Mesmo que as cidades tenham
cancelado, é difícil controlar as pessoas. Elas viajam, aglomeram", alerta
Ethel.
"Não temos como prever qual será o impacto do Carnaval. Tudo vai
depender do que vai acontecer em fevereiro", completa a epidemiologista.
Ela explica que, como a ômicron é altamente transmissível (e não é mais
leve), a transmissão é muito rápida. A variante delta demorava quase duas
semanas para dobrar o número de casos. Já a ômicron demora cerca de quatro
dias.
"Se você tinha mil casos de delta, demoraria quase duas semanas
para chegar a dois mil casos. A ômicron se transmite muito rápido, aumentando
0.35 por dia. Se você tinha mil casos, em três ou quatro dias ela já
dobrou".
Primeiro país a identificar e sequenciar a variante ômicron do
coronavírus, a África do Sul registrou um pico de novas infecções ainda em
dezembro de 2021. No dia 17 daquele mês, foram mais de 23,4 mil casos de
Covid-19 em 24 horas.
O registro máximo de novos casos ocorre de forma abrupta desde o fim de
novembro, mas passou a registrar uma queda quase tão acentuada quanto a subida
durante o período de festas.
O país anunciou no dia 31 de dezembro 2021 ter superado o pico da onda causada pela variante sem
notar um aumento significativo nas mortes.
O Reino Unido foi um dos primeiros países que declarou a
variante ômicron dominante dentro do seu território, substituindo rapidamente a
delta. O pico de casos da Grã-Bretanha ocorreu em 5 de janeiro, quase um mês
após o auge de novas infecções na África do Sul.
O país registrou uma curva bastante ascendente durante as festas de fim
de ano, mas uma queda acentuada começou a ser observada ainda na segunda semana
do ano.
Nesta quarta-feira (19), o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou o fim das
restrições impostas para controlar o avanço da Covid-19 na Inglaterra.
A partir da próxima semana, o uso de máscaras deixará de ser obrigatório
em qualquer lugar e o home office também deixará de ser incentivado. Johnson
afirmou que a decisão, que vem um dia após o Reino Unido registrar
recorde de mortes, tem o apoio de cientistas acreditam que a onda da ômicron
atingiu seu pico.
A Austrália, país apontado como um dos que apresentou melhor
resposta durante toda a pandemia, com baixa incidência de casos e poucas
mortes, viu as infecções dispararem a partir do fim de dezembro.
Ainda é difícil apontar um pico de casos no país, no entanto, há uma
tendência de queda a partir do dia 13 de janeiro, quando o país registrou 109
mil novas infecções por Covid-19.
Assim como a Austrália, a França também vem registrando um rápido aumento
no número de novas infecções durante o fim de 2021 e começo de 2022, no
entanto, há uma aparente tendência de queda nos últimos dias, depois que o país
europeu registrou, em 15 de janeiro, 297 mil casos.
FONTE: g1.globo.com
Exelente informação
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